Edson Brasil Castro
Ainda que a sorte me abrace
Ou seu contrário me açoite
Ainda que a noite se esvaia aos poucos,
Derretendo pela madrugada
Eu me lembrarei daquela tarde morna.
Do beijo roubado, partido e torto
Feito arte de artesão do barro
O que parecia errado, quase feio
Se fez um mundo novo.
Mas tu achaste pouco,
Tentaste me fazer escravo.
E, em tua mente, traçaste um plano louco.
Entre a língua e o céu da tua boca,
Criaste para mim um cais e um porto.
Mas eu não sou barco de amarras,
Nem ancoradouro para teus desígnios.
Sou sereia que canta sob a sombra,
Que não se dobra ao peso da correnteza;
Minhas ondas dançam para o horizonte.
E, mesmo entre os recantos de sua mente,
Onde teci fios de amor e esperança,
Havia um eco de liberdade,
Um sussurro que clamava pela jornada,
Um farol a brilhar nas tempestades.
Quebra as correntes, se ousar,
Este coração não se rende ao jugo.
Eu sou tempestade e calmaria,
Sou a dança enviuvada das folhas ao vento,
Um verso que não conhece fim.
Se sonhaste um domínio,
Saiba que o sonho se desfez ao amanhecer.
E no despertar da aurora,
Eu sigo adiante, rumo à eternidade,
Sem os grilhões de um passado.
Reescrevo cada gesto, cada toque,
Transformo em poesia o que foi prisão.
E com cada passo dado para longe,
Lembro-me da tarde morna e de nós dois,
Um balançar suave entre as marés do amor.