A quem interessar possa

Edson Brasil de Castro

Se queres me conhecer
É preciso saber
que enfrento o meu silêncio
fazendo versos,
cuspindo cinzas que vem de dentro,
Que calo os meus medos
com a coragem que eu crio
E acerto o meu relógio
Pelas horas que se mostram pelo céu

Meu sonho de consumo quando criança
Era ter todas as nuvens nas mãos
Como doce de algodão doce

Sinto que perto não é onde se chega
É onde se está,
E longe, sem dúvida
É onde os sonhos não podem morar

Não consigo acreditar
No sangue nos olhos,
No amor que se despede
Ou na dor sem fim.

Reflexão

O poema explora a introspecção como um meio de autoconhecimento e enfrentamento das adversidades. Nos primeiros versos, o eu lírico revela a sua luta contra o silêncio, transformando-o em versos e poesia. Essa metáfora para o processo criativo demonstra como as palavras emergem como uma catarse, expurgando as “cinzas” interiores, resíduos de experiências e medos. A coragem criada e o alinhamento com o céu indicam um desejo de transcendência e conexão com algo maior, mostrando uma relação íntima entre o interior e o exterior.

No segundo verso, o eu lírico relembra um sonho de infância: segurar todas as nuvens como se fossem algodão doce. Essa imagem traz um contraste entre a leveza dos sonhos infantis e a realidade adulta, que, por sua vez, é carregada de desafios e desapontamentos. A metáfora das nuvens reflete a inocência perdida e a pureza de desejos simples, que muitas vezes se tornam inalcançáveis à medida que se cresce.

O poema também discorre sobre o conceito de proximidade e distância, mas não em termos geográficos, e sim emocionais e existenciais. “Perto” é descrito como um estado de presença e conexão, enquanto “longe” é o lugar onde os sonhos não podem habitar. Essa reflexão transmite a importância de valorizar os momentos e as pessoas com quem se compartilha o presente, pois a verdadeira proximidade está ligada à vivência dos sentimentos e não à localização física.

Nos versos finais, o eu lírico rejeita as intensidades negativas da vida, como o “sangue nos olhos”, uma metáfora para a agressividade ou vingança, e expressa incredulidade diante de despedidas amorosas e dores eternas. Há uma aceitação da impermanência e um reconhecimento da resiliência emocional. Essa negação às emoções destrutivas sugere uma busca contínua por equilíbrio, harmonia e pela beleza que ainda pode ser encontrada nas imperfeições e nos desafios da vida.

Por Edson Brasil de Castro

Edson Brasil de Castro Sou Edson Brasil: poeta, escritor e compositor. Escrevo desde a infância, com livros publicados e participação em antologias poéticas. Meu trabalho já alcançou o Liceu de Bucareste, na Romênia, e em breve terei um livro infantil lançado em Bolonha. Minhas letras também vivem em músicas gravadas no Brasil e no exterior. Com palavras e melodias, espalho meus pensamentos pelo mundo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *